Nem carros, nem casas, nem dispositivos eletrônicos de última geração; o que os jovens brasileiros mais querem hoje é mesmo viajar - seja para alargar horizontes de conhecimento, seja para aplacar o estresse da rotina diária combinada de emprego e faculdade.
É o que aponta pesquisa realizada pela B2, empresa que trabalha há 11 anos com público universitário produzindo eventos e viagens, com 2,2 mil pessoas de 18 a 30 anos nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Paraná e Goiás.
Essa preferência dos jovens por viagens também é atestada por pesquisas da Fundação Getulio Vargas (FGV) a pedido do Ministério do Turismo, do Instituto Data Popular, e de um levantamentos da Associação Brasileira de Agências de Viagem (Abav).
Segundo a Sondagem do Consumidor de agosto, da FGV, o público com menos de 35 anos compõe o maior grupo de viajantes no país. Essa faixa representa 33% do universo que declarou intenção de viagem no mês de agosto. Há um ano, essa fatia era menor, de 30,4%.
"Quando sai da bolha da adolescência, com mais independência e dinheiro do primeiro emprego, o jovem quer descobrir, ter experiências", diz o sócio da B2, Ricardo Buckup. "Para viver mais intensamente, a viagem aparece como o caminho mais rápido", afirma o executivo.
Entre os motivos apontados pelo jovens para buscar antes de tudo uma viagem, em detrimento de bens de consumo duráveis, por exemplo, está a compreensão de que a vida vai ficar mais dura no futuro. "Agora é a hora da gente pensar na gente. Eu não posso apostar mais para frente. Terei família, responsabilidades e não poderei arriscar", diz Buckup sobre a frase colhida na pesquisa que melhor retrata esse quadro.
Quando convidados a apontar qual seria o hábito de consumo preferido para o horizonte de um ano, uma média de 23% dos pesquisados disse querer uma viagem nacional; e 31% querem ir ao exterior. Esses percentuais superaram as preferências por outros objetos de consumo. Adquirir um tablet é a vontade de 12%, fazer um MBA é a preferência de 10%, comprar um carro é o plano de 6%, enquanto 5% querem ter casa própria.
O turismo hoje responde por 3,7% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, segundo o governo. Para o presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagem (Abav), Edmar Bull, o público jovem tem sido determinante para elevar a participação desse mercado, que movimentava US$ 24 bilhões em 2003 e, em 2012, atingiu um giro de US$ 76 bilhões.
De olho nessa tendência, o Ministério do Turismo lança ainda este mês o programa Viagem Mais Jovem, que vai oferecer linhas especiais de financiamento e pacotes turísticos com descontos.
Segundo outra pesquisa, feita pelo Data Popular em maio deste ano, a primeira viagem de avião é realizada, em média, aos 24 anos de idade no país. No mesmo levantamento, 3,3 milhões desse público, ou 12% do universo total, afirmaram ter feito alguma viagem aérea nos últimos 12 meses, enquanto 6,9 milhões dessas pessoas - 27% dos estrato pesquisados - planejam fazer turismo nacional ou internacional até maio de 2014.
O Data Popular mostra que 46% dos jovens brasileiros que viajam de avião fazem parte da classe de alta renda, 40% são da classe média, e 14% integram a classe baixa.
Em outro levantamento sobre o turismo brasileiro, feito pela TripAdvisor - o site internacional de viagem que registra 260 milhões de visitantes por mês - os destinos preferidos dos brasileiros para os próximos dois anos são Europa, com 78%, Ásia, com 24%, e América Latina, com 16%, praticamente empatada com América do Norte (15%). A companhia ouviu no Brasil 890 consumidores e 211 grupos hoteleiros participaram da pesquisa.
Segundo a ABAV, o aumento do público jovem na composição da base de consumo de viagens e turismo vai colaborar para que se confirme a projeção de crescimento do setor para este ano, que é de um ganho de 10%.
Fonte: Valor Econômico